Nº 2532 - Janeiro de 2013
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
Ao Serviço da Paz, a Engenharia Militar na UNIFIL

O Exército Português aprontou e projetou pela primeira vez, após o final das Campanhas de África, uma unidade de Engenharia sob a égide das Nações Unidas, para atuar no Líbano no âmbito da “UNIFIL-United Nations Interim Force in Lebanon”. 

De fins de 2006 a Junho de 2012, os militares portugueses constituíram um fator determinante para a construção e manutenção da paz e contribuíram para o aumento da prosperidade numa região carenciada e atormentada por um prolongado conflito armado.

Esta obra é um registo notável desenvolvido pelos que testemunharam e participaram nas actividades da engenharia portuguesa no Líbano. Não se limitando, contudo, aos aspectos técnicos e militares mas captando também a convivência com as populações e com as autoridades locais. Interação rica de cambiantes e que pode ser apreciada sob a forma de textos, documentos oficiais e inúmeras fotografias recolhidas pelos vários militares que colaboraram na feitura deste livro.

A República do Líbano, com 10400 km2 de superfície, tem uma área semelhante à do distrito de Beja, contando com cerca de quatro milhões de habitantes. Estado constituído por diversas comunidades culturais e confessionais, com Sunitas, Xiitas, Maronitas, Cristãos e Druzos viveu, após a segunda Grande Guerra, um período de prosperidade e desenvolvimento tal que foi designado por “Suíça do Oriente”. 

Contudo, o incremento da população muçulmana, o afluxo de refugiados palestinianos e a difícil e complexa coexistência com os vizinhos Israelitas e Sírios, vieram fragmentar o frágil equilíbrio político e social do Líbano e provocar distúrbios entre cristãos e muçulmanos. As intervenções militares de Israel e da Síria, a formação de milícias rivais e a crescente preponderância do grupo Hezbollah fomentaram um conflito interno intermitente e prolongado.

Em 11 de Agosto de 2006, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a Resolução 1701, para pôr fim ao conflito do Líbano, tendo ainda prolongado o mandato da UNIFIL e a sua transformação numa força mais robusta e numerosa. 

Para responder a este desafio da comunidade internacional, Portugal preparou uma Companhia de Engenharia, para a realização de trabalhos em apoio da UNIFIL e das populações do sul do Líbano. 

A esta unidade foram atribuídas uma multiplicidade de tarefas, desde a remoção de escombros, à reparação de pontes e de itinerários, à organização de terreno, à purificação e reabastecimento de água e à melhoria das condições de vida das forças militares das Nações Unidas e das populações civis. Tudo isto em articulação com as autoridades libanesas e com as organizações não-governamentais (ONG). 

O aprontamento da unidade de engenharia iniciou-se em 5 de setembro de 2006, nomeadamente a instrução e o processamento administrativo de pessoal e material. Em outubro e novembro foram enviadas as dezenas de contentores com viaturas e equipamentos, para além do pessoal, que em 24 de Novembro se instalou em bivaque, no sul do Líbano, na localidade de Shama. 

O desenvolvimento do aquartelamento português foi feito de forma incremental, ao longo dos cinco anos e meio de missão, com a construção de abrigos, consolidação do perímetro de segurança, construção de muros e acessos, torres de observação, depósitos de combustíveis, alojamentos, instalações sanitárias, lavandaria, ETAR, adutora de água, drenagem pluvial, cozinha fixa, refeitório, áreas de trabalho, parada, sala de reuniões, oficinas, instalação de antenas, posto médico e campo de jogos. Uma colina pedregosa e inóspita foi transformada num quartel de engenharia operativo e funcional. 

Mas as missões mais importantes da nossa engenharia militar passaram pela atividade ininterrupta de natureza operacional, sob a alçada direta do “Force Commander” (FC) da UNIFIL. Passando por trabalhos de demolição, limpeza, construção de plataformas para implantação de acantonamentos militares, edificação e reabilitação de aquartelamentos e infraestruturas, montagem de abrigos e vedações e outros trabalhos de apoio e proteção da força, construção e beneficiação de estradas militares e outros itinerários, etc. 

Multifacetada e versátil, a nossa engenharia apoiou ainda a UNIFIL, em permanência, com transportes, desmonte de rocha, identificação e inativação de engenhos explosivos, construção de paióis, limpeza de itinerários, execução de sistemas de drenagem, apoio sanitário, projeto e aconselhamento de engenharia. 

No âmbito da cooperação civil-militar (CIMIC), as nossas forças desenvolveram programas dirigidos à satisfação de necessidades imediatas das populações locais, de forma a facilitar o acolhimento e aceitação da presença dos nossos militares. Quer no domínio das infraestruturas, quer no apoio médicosanitário como na formação, nos cuidados médicos e no apoio sanitário às escolas, quer nas relações cordiais e de ligação intercultural com as entidades civis e religiosas, através de reuniões, visitas, distribuição de material escolar, actividades desportivas e convívios, etc. 

Em cinco anos e meio de operações na UNIFIL, a engenharia portuguesa realizou mais de uma centena de apoios a cerca de 30 contingentes militares internacionais presentes no Líbano, construiu 3200 metros de estrada militar, desenvolveu mais de uma centena de ações de CIMIC, apoiou as Forças Armadas Libanesas e ajudou a estremar a linha de demarcação entre o Líbano e Israel. 

Operações que constituíram um marco de afirmação portuguesa no território libanês, ao serviço da paz e sob a égide das Nações Unidas. 

Criteriosamente apresentada, num volume de 194 páginas, repleto de mapas, desenhos, fotografias e plantas, com excelente aspecto gráfico e agradável leitura, fica esta obra à disposição dos leitores interessados, constituindo um valioso contributo para todos aqueles militares que no futuro venham a ser integrados em missões de apoio à paz. 

A Revista Militar agradece a oferta do livro “AO SERVIÇO DA PAZ, A Engenharia Militar Portuguesa na UNIFIL” e felicita o Coronel Engenheiro Hermínio Teodoro Maio e toda a equipa de oficiais e sargentos da EPE que tornaram esta obra possível.

Major-General Manuel de Campos Almeida
Vogal da Direção da Revista Militar

Major-general
Manuel António Lourenço de Campos Almeida
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