Nº 2532 - Janeiro de 2013
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
Origens da Grande Guerra: Rumo às trincheiras. Percurso político-militar (1871-1914)

​O Coronel David Martelo, depois de uma carreira militar de elevada craveira, entre 1963 e 1995, dedicou-se em boa hora à escrita, tendo publicado e traduzido várias obras (caso das três principais obras de Maquiavel – O Príncipe, Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio e A Arte da Guerra) na área da História Militar, mas também da Segurança e Defesa. Entre as principiais obras da sua autoria destacamos O Exército Português na Fronteira do Futuro, A Espada de Dois Gumes, O Cerco do Porto e Os Caçadores. Da sua colaboração na obra Portugal e a Grande Guerra (com coordenação de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes), ficaram alguns escritos inéditos, em especial sobre as origens da Grande Guerra, que agora acabaram por ser complementados e editados, para satisfação dos leitores.

Esta obra de David Martelo está centrada nas origens da Grande Guerra, numa perspetiva essencialmente europeia (com apenas duas citações de bibliografia portuguesa e uma vasta bibliografia de origem europeia e norte americana) de explicação dos acontecimentos e perspetivas tão “flagrantemente inadequados”. David Martelo sente necessidade de encontrar as explicações (muito mais do que as culpas) para um fenómeno que marcou a História da humanidade, e nesse sentido divide a sua obra em XIII capítulos (antecedidos por três quadros que servem como pano de fundo) e um “Sumário Final”, a que junta a cronologia do período 1870-1914 e um interessante e inovador índice de protagonistas. 

O livro de David Martelo representa claramente uma leitura realista de Relações Internacionais, que se apoia nos factos Históricos para explicar que o rastilho de Sarajevo foi muito mais do que o “Relâmpago em céu azul”. Mais do que a visão militar (centrada no absurdo das táticas e na impreparação dos chefes militares), o livro tem sobretudo uma abordagem política e diplomática (de um período de cerca de 40 anos), que não deixa de dar um espaço considerável ao poder discricionário dos líderes da altura. 

Entre os principiais atores, David Martelo não deixa de trabalhar com especial atenção o papel da França, da Áustria-Hungria, da Grã-Bretanha, da Rússia, da Prússia, da Itália, e da Alemanha. O jogo de equilíbrios entre estas grandes potências viria a degenerar numa Guerra que, segundo David Martelo, não era esperada pela maioria dos europeus em 1914 e que se desenvolveria dominada por uma série de “desentendimentos, de suspeitas, de intransigências” e de “hesitações do governo britânico”, muito especialmente depois do dia da entrega do ultimato à Sérvia (a que chama de “leviandade política dos responsáveis europeus da época”). Ao longo da obra, David Martelo analisa muitos dos testemunhos desse período da História (citações esclarecedoras…como a de Bloch, que antecipou a guerra de trincheiras 17 anos antes – p. 205) para explicar como essa “leviandade política” se transformou em leviandade militar nos diferentes teatros de operações, onde morreriam milhões de jovens levados para a guerra pela glória e pela vitória. Entre estes jovens, não esquece os cerca de dois mil mortos e mais de cinco mil feridos portugueses que participariam num Corpo Expedicionário Português com cerca de 55000 homens. 

Aos leitores da Revista Militar sugerimos a leitura cuidada deste livro de David Martelo, fundamentalmente pelas questões e pelos instrumentos que coloca à nossa disposição, os quais permitem uma visão mais alargada das razões que levaram a um conflito marcado pelo desastre político, diplomático, social e militar.

A Revista Militar agradece a amável oferta da editora Sílabo e felicita o Coronel David Martelo por esta obra, que vai certamente enriquecer o estado da arte sobre a I Grande Guerra, numa altura em que se iniciam, um pouco por todo o Mundo (e também em Portugal), as comemorações deste conflito mundial que também marcou profundamente os portugueses e Portugal. Saibamos aprender com o passado para construirmos um futuro melhor.


Coronel João Jorge Botelho Vieira Borges
Vogal da Direção da Revista Militar

Major-general
João Jorge Botelho Vieira Borges
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