Reflexões em torno do quadro Malasaña y su hija
«War by means of popular uprisings [...] has its advocates and its opponents. The later object to it either on political grounds, considering it as a means of revolution, a state of legalized anarchy that is as much of a threat to the social order at home as it is to the enemy; or else on military grounds, because they feel the results are not commensurate with the energies [...]. The first objection des not concern us at all: here we consider a general insurrection as simply another means of war [...] The following are the only conditions under while a general uprising can be effective: 1. it must be fought in the interior of the country; 2. It must not be decided by a single stroke; 3.the theater of operations must be fairly large; 4. the national character must be suited to that type of war; 5. The country most by rough and inaccessible».
Clausewitz, On War, Book VI, Chap. XXVI, pp. 479-480
«[El 2 de Mayo] No fue, como la historiografía tradicional afirmó durante dos siglos, un alzamiento masivo de toda la nación. Eso vino después, a partir del 3 de mayo. Y con reservas. Las palabras masivo y nación deben ser manejadas con cuidado, como cada vez que se consideran los lugares comunes de la triste historia de España. Lo indiscutible es que en Madrid hubo una sublevación, y que quien empuñó las armas fue la gente más humilde, haciéndose cargo a tiros y puñaladas de una soberanía abandonada por sus gobernantes. (...) esa jornada, que podía haberse limitado a una insurrección de cuatro o cinco horas, tuvo notables consecuencias. Hizo que España entera – cada uno a su modo, como solemos, unos voluntarios y otros a la fuerza – tomara conciencia de sí misma, de lo que era desde hacía muchos siglos, y se levantara, solidaria – otra palabra imprecisa, tratándose de españoles –, en una contienda larga y cruel que cambió nuestra historia y la de Europa.»
Arturo Pérez-Reverte, “La paradoja del 2 de Mayo” in
http://www.perezreverte.com/articulo/patentes-corso/196/la-paradoja-del-2-de-mayo/
«”Most wars were wars of contact…Ours should be a war of detachment.”
So Lawrence hit upon the uses of irregularity in an age of regularity; of mobility in an age of immobility (…). Only in the desert, it seemed, where the front was nowhere, could such a concept be tested. As George Bernard Shaw noted, even Lawrence’s camels were not fed according to regulations.»
Charles Hill, Grand Strategies, Yale University Press, New Haven, 2010, p.258
«Os nossos princípios militares são os seguintes:
1) Atacar primeiramente as forças dispersas e isoladas do inimigo e atacar depois as suas forças concentradas e poderosas.
2) Tomar primeiramente as cidades pequenas e médias, bem como as regiões rurais e tomar depois as grandes cidades.
3) Ter como objectivo principal o aniquilamento das forças vivas do inimigo e não a conservação ou tomada duma cidade ou território. (…)
4) Em cada batalha, concentrar uma superioridade absoluta de forças (…), cercar totalmente as forças inimigas e esforçar-se por aniquilá-las por completo, sem dar-lhes uma possibilidade de que algo se escape da rede. (…)
5) Não travar combate sem que se esteja preparado, não travar combate que não se esteja seguro de vencer. (…)»
Mao Tsetung, Citações do Presidente Mao Tsetung, Minerva, Lisboa, 1975, pp. 69-70
«A guerra de guerrilhas (…) é na sua essência e do ponto de partida uma guerra de inteligência, onde as forças adversárias, por mais organizadas que forem têm sempre dificuldades de enfrentar pequenos grupos de guerrilheiros. Por isso é chamada a guerra das pulgas ou de mosquitos.»
Alcides Sakala, Memórias de um Guerrilheiro, Dom Quixote, Lisboa, 2005, p. 409
Enquadramento
O quadro Malasaña y su hija1, da autoria de Eugenio Álvarez Dumont, retrata o momento em que um espanhol vestido de modo vulgar e armado com uma simples navalha apunhala um dragão francês numa rua secundária de Madrid – vingando assim a filha que este havia previamente matado – enquanto o grosso do exército inimigo carrega ao largo2.
Mais do que mostrar a fúria e o drama pessoal de um pai, a pintura de Álvarez Dumont encerra um nível simbólico: respeita ao levantamento popular contra a dominação napoleónica que teve início na capital espanhola, no dia 2 de Maio de 1808. A revolta madrilena apanhou de surpresa as forças ocupantes e, em boa medida, também os próprios sublevados3. A resposta francesa empurrou os insurrectos para as zonas rurais fora dos grandes centros habitacionais, mas nunca foi capaz de os erradicar ou, sequer, de impedir o seu crescimento. Não obstante a dura repressão a que foi submetida4, esta rebelião popular alastrou para muitas outras regiões de Espanha acabando por contribuir para a derrota francesa e para a restauração borbónica que se lhe seguiu.
Apesar de haver notícia de acções de teor idêntico desde tempos imemoriais5, é identificável uma ruptura prática e conceptual deste velho-novo modo de fazer a guerra com o procedimento mais comum das nações europeias nos séculos imediatamente anteriores ao XIX. É evidente o contraste entre o «standing army in the shape familiar to the eighteenth century»6 e a «limited, constricted form of war» que o acompanhava7 e a sublevação dos colonos norte-americanos contra a dominação britânica, a levée en masse da França revolucionária face aos inimigos externos e a insurreição realista vendeana que antecederam a guerra peninsular.
Debruçando-se sobre a experiência francesa e as novas condições políticas que esta motivara, Clausewitz reconhece que, ao contrário da maior parte do século XVIII, em que «the people’s part had been extinguished»8, «the people became a participant in war; (…) the full weight of the nation was thrown into the balance. (…) nothing now impeded the vigour with which war could be waged»9. As sucessivas e crescentes manifestações dessa “guerra da pulga” – tal como a definiu Robert Taber10 – motivaram que o início da sua análise específica tivesse lugar no Ocidente precisamente a partir do fim do século XVIII11.
Malasaña y su hija ilustra de modo particularmente impressivo o fulgor da entrada em cena do povo no processo bélico – doravante todas as pessoas, todos os meios, todos os bens de uma nação passariam a ser mobilizáveis ante uma ameaça externa – e reúne diversas características daquilo que Clausewitz apelidou de «The People in Arms», no capítulo que lhe dedicou em On War12, e que, devido ao impacto da experiência espanhola, veio a chamar-se genericamente guerrilha13: a assimetria de meios ao dispor dos beligerantes, a escolha de alvos isolados por parte da parte mais débil em detrimento de ataques convencionais, a procura dos pontos fracos do inimigo, a furtividade das acções e a elevada predisposição psicológica para as levar a cabo. O pragmatismo de Clausewitz reconhece-se no modo como, ao debruçar-se sobre uma matéria não muito comum no seu tempo14, procurou não a valorar negativamente, tendo reconhecido a naturalidade de nações derrotadas, ocupadas ou em circunstâncias extremas recorrerem a todas as formas e meios para assegurarem a sua sobrevivência15 e que as mesmas constituem legítimo objecto de estudo.
Assimetria
Entre homens comuns munidos de armamento rudimentar e os membros de uma unidade de cavalaria de um exército regular distam necessariamente os modos de conceber e levar a cabo acções ofensivas e defensivas de cariz bélico. Desde logo, essa assimetria de meios16 recomenda aos mais fracos que evitem travar batalhas convencionais que possam levar ao seu aniquilamento e que dispersem as suas actividades de modo a produzir dúvidas no inimigo acerca do lugar onde agirão17.
A dispersão e o cuidado adicional com a própria sobrevivência consubstanciam-se não só na divisão da força combatente mas, também, na procura da invisibilidade aos olhos do adversário. A cedência do controlo da maior parte do território a um inimigo dotado de meios muito superiores obriga este último a empenhar o seu potencial humano e material na consolidação de posições em pontos determinados do teatro de operações, expondo-as aos ataques da contraparte.
Uma sublevação generalizada, segundo o próprio Clausewitz, deverá ser «nebulous and elusive; its resistance should never materialize as a concrete body»18. Para isso, os guerrilheiros tenderão a misturar-se com as populações que os rodeiam (e de onde provêem, na maior parte das vezes) e a interagirem com elas de modo a procurarem garantir o seu apoio ou, no mínimo, o seu silêncio19. O elemento exterior mais evidente desta opção pela indistinguibilidade é o não uso de uniformes que denunciem a condição beligerante dos seus membros: o seu cariz propositadamente irregular20.
Tudo isto provocará tensão no seio da força ocupante (ou tendencialmente hegemónica) e conduzirá à sua extensão no terreno e à necessidade de procurar assegurar o guarnecimento adequado de pontos-chave e a fluidez contínua das vias de comunicação, de abastecimento e das informações21.
Impossibilitados de derrotar o grosso da força inimiga em campo aberto e em acções rápidas e decisivas, as forças insurrectas tendem a optar pelo desgaste do adversário, fustigando as suas unidades mais periféricas ou de menores dimensões em ataques de baixa intensidade, mas que não deixem de afectar a operacionalidade e a moral do todo. Por isso, a emboscada, a sabotagem e o terrorismo podem considerar-se operações arquetípicas da guerrilha22.
Os sucessos dos núcleos insurrectos fundadores propiciarão o alargamento da sua base de apoio, o engrossamento das suas fileiras e a eventual conversão de parte dos seus efectivos em corpos regulares de modo tal que, num determinado momento, este crescimento lhes permita travar combates de maior escala e de modelo mais convencional23.
Uma outra possibilidade consiste na existência, a priori, de duas forças – uma regular e outra irregular – que possam operar coordenadas ou separadamente. O nível de independência e de interpenetração entre ambas tende a variar amplamente. Clausewitz não reconhece aptidão suficiente às forças guerrilheiras para, por si só, levarem de vencida exércitos inimigos, apontando para a necessidade desta operação conjunta e do enquadramento dos insurrectos por pequenas unidades provindas das fileiras regulares que assegurariam a sua maior coesão e atractividade24. Para que uma insurreição produzisse tais efeitos sozinha, adianta, seria necessário que a área ocupada tivesse o tamanho da Rússia ou que existisse uma elevada desproporção entre o tamanho do exército ocupante e o tamanho do país pelo que «to be realistic, one must therefore think of a general insurrection within the framework of a war conducted by the regular army, and coordinated in one all-encompassing plan»25.
No mesmo sentido, Mao Tse-Tung julga que «these guerrilla operations must not be considered as an independent form of warfare. They are but one step in the total war, one aspect of the revolutionary struggle»26.
Movimento
Um popular de navalha na mão exposto a uma carga conjunta de dragões, couraceiros e mamelucos pouco ou nada pode fazer, mas aumentará o seu poder relativo se os enfrentar individualmente e de modo inesperado. Ao abater um adversário desse modo não convencional, um combatente irregular infunde sobre os sobreviventes o medo de poderem ser os próximos, aumenta o seu receio da população civil, extrema a vontade e a violência potenciais de uma retaliação e, tendencialmente, circunscreve a sua liberdade de movimentos a zonas tidas por seguras.
Mais importante do que o número de guerrilheiros é, assim, o modo como se movimentam e articulam as suas acções, com que intuito político as realizam e de que formam potenciam o seu impacto. A dimensão reduzida das unidades de infantaria ligeira normalmente empregadas neste tipo de guerra confere-lhes uma elevada mobilidade e maximiza quer a sua prontidão quer a rapidez com que podem deslocar-se ou ser deslocadas num teatro de operações. O menor número dos seus efectivos reduz consideravelmente os problemas logísticos decorrentes da progressão de grandes contingentes, resulta menos intimidatório para as populações que com elas se cruzem, torna-os menos expostos à detecção, aos ataques e contra-ataques adversários e implica um número limitado de baixas no caso da sua captura ou eliminação.
Dir-se-á que a acção guerrilheira lembra a de um felino: oscila entre a espera paciente pelo momento certo para agir e a execução célere e certeira do movimento previsto quando a hora chega. Idealmente, o modo como será executada visa tirar o máximo partido do elemento surpresa, fazer o maior número de baixas e de estragos junto do inimigo e impedir que este possa reagrupar-se e recorrer aos meios superiores de que dispõe para oferecer resistência eficaz e, eventualmente, conduzir um contra-ataque. Esta reacção é muitas vezes impedida pelo melhor conhecimento das características do terreno evidenciado pelos insurrectos e pelo modo igualmente veloz como, tirando partido desse conhecimento, retiram para posições fora do alcance imediato da contraparte: normalmente para bases seguras em zonas periféricas, pouco acessíveis e muitas vezes em zonas fronteiriças de países aliados.
Motivação
Manuela Malasaña, a filha que jaz morta, é a imagem da pátria espanhola: exangue, vencida, humilhada, a exigir vingança e a apelar à insurreição e à expulsão dos que a invadiram, oprimiram e maltrataram. Clausewitz, talvez inspirado pelo impulso vingador dos espanhóis (e dos portugueses) contra os exércitos napoleónicos na Península Ibérica27, considera que, para ser bem sucedida, a guerra de guerrilha terá de ser conduzida por povos cujo carácter nacional lhe seja adequado. Não obstante, a história parece demonstrar que os mais diversos povos nas mais variadas latitudes e confrontados com os mais díspares teatros de operações têm adoptado este modo de fazer a guerra. Será assim difícil identificar um carácter nacional típico mais atreito à guerra de guerrilha do que outros. Não deverá esquecer-se, também, o tipo de opressor e os efeitos da opressão enquanto potenciadores das mobilizações populares assim como o enquadramento político-ideológico dos conflitos.
Independentemente da putativa tipicidade (ou atipicidade) das nações que se lançam na guerra de guerrilha, será a partir do impulso de reacção contra o poder, desse animus laedendi, conjugado com «a defesa de uma ideia, ou de um interesse colectivo»28 que se darão os levantamentos populares e que se mantêm as guerras dos «mais fracos contra os mais poderosos, dos poucos contra os muitos, dos donos da terra contra os intrusos, da astúcia contra a força»29.
Não será, por isso, por acaso que tenha sido uma questão ideológica e identitária – o nacionalismo – a espoletar a maioria das insurreições no século XIX, que tenha animado as reacções populares em diversos países ocupados durante a Segunda Guerra Mundial e que a mesma, conjugada com o marxismo nas suas múltiplas declinações, tenha norteado a maioria das forças guerrilheiras que, depois da Segunda Guerra Mundial, se bateram contra as potências europeias. Ainda hoje, passadas que estão a maioria das proxy wars do tempo da Guerra Fria, são as questões ideológicas e identitárias que mais motivam os povos a recorrer à guerra de guerrilha. Ao longo da sua história tem-se evidenciado a crescente preocupação dos movimentos que a conduzem com a motivação e doutrinação dos seus combatentes e das populações sob a sua influência. Tal originou que muitos já não dispensassem a figura do comissário político ou do conselheiro religioso no organigrama das suas unidades.
Conclusão
Segundo Mao: «As armas são um factor importante na guerra, mas não são o seu factor decisivo. É o homem, e não as coisas, quem constitui o factor decisivo. A correlação de forças não é apenas uma correlação de poder militar e económico, ela é também uma correlação de recursos humanos e força moral. O poder militar e económico está necessariamente dominado pelo homem»30.
Foi, precisamente, a força dos homens comuns que se revelou no Ocidente de modo imprevisto a partir do século XIX, conferindo ao povo enquanto tal o papel de actor de pleno direito no fenómeno bélico, propiciando o desenvolvimento de modos e técnicas de combate pouco explorados até então, pondo crescentemente em causa o equilíbrio da trindade clausewitziana – povo, comandante e exército, governo – e o carácter estanque dos atributos de cada um dos seus elementos31. Na verdade, como reconhece Michael I. Handel, «citizens of modern democracies would not accept Clausewitz’s assertion that ‘the political aims are the business of the government alone’. In a modern democracy, the political aims and directions of the war are clearly the concern of the people as well»32.
Apesar desta tónica no elemento humano, não será possível escamotear a importância da técnica no modo como são hoje conduzidas as acções de guerrilha e, em contraponto, também as de contra-insurreição33. O desenvolvimento das armas tem acarretado a sua crescente letalidade e portabilidade, as tecnologias ao serviço da guerra têm criado maiores capacidades de detecção e de combate a inimigos outrora “invisíveis” e a guerra convencional tem sido substituída por acções militares de tipo mais equiparável ao modelo da guerra de guerrilha. Mas tal não implicou o seu fim. Antes motivou a sua capacidade de resposta e de adaptação.
Para Nuno Rogeiro, «o guerrilheiro é «a última sentinela da terra», ligado ao solo que defende, misturado na população e conhecedor emérito da geografia»34. Ainda que excessivamente romanceada, esta definição de um combatente irregular tem a virtude de resumir o porquê da sua força, real e simbólica, bem como da sua atractividade e actualidade, tal como o quadro de Álvarez Dumont.
Bibliografia
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1 De seu nome completo Malasaña y su hija se baten contra los franceses en una de las calles que bajan del parque a la de San Bernardo. Dos de mayo de 1808 este quadro consta do espólio do Museu de Saragoça. Vd. ficha completa da obra constante da Red Digital de Colecciones de Museos de España, disponível para consulta na internet em: http://ceres.mcu.es/pages/ResultSearch?txtSimpleSearch=Malasa%F1a%20y%20su%20hija&simpleSearch=0&hipertextSearch=1&search=simple&MuseumsSearch=&MuseumsRolSearch=1&listaMuseos=null.
2 À época, acções como a de Juan Malasaña ainda não eram frequentes e, muito menos, comuns no espaço urbano, pelo que se justifica plenamente o espanto evidenciado pelo cavaleiro francês ao ser atacado. Este mais facilmente esperaria encontrar a morte por acção de um soldado inimigo numa batalha ou escaramuça do que às mãos de um homem do povo fracamente armado.
3 O livro Un dia de cólera de Arturo Pérez-Reverte, na fronteira entre o romance ficcionado e o relato histórico, apoiado em fontes primárias, relata o sucedido de modo inspirado. Cfr. PÉREZ-REVERTE, Arturo, Un dia de cólera, Alfaguara, Madrid, 2007.
4 Goya representará magistralmente o martírio dos madrilenos em Los fusilamientos del 3 de Mayo.
5 Cfr. HEUSER, Beatrice, The Evolution of Strategy, Cambridge University Press, Cambridge, 2010, p. 389: «the wars concerning us here are at least as old as any form of war and predate state formation.»
6 CLAUSEWITZ, Carl Von, On War, ed. HOWARD, Michael, PARET, Peter, Princeton University Press, Princeton, 1989, p. 588.
7 Ibidem, p. 591.
8 Ibidem, p. 589.
9 Ibidem, p. 592.
10 Cfr. TABER, Robert, War of the Flea: The Classic Study of Guerrilla Warfare, Potomac Books, Dulles, 2002, p. 20: «Analogically, the guerrilla fights the war of the flea, and his military enemy suffers the dogs’ disadvantages: too much to defend; too small, ubiquitous, and agile an enemy to come to grips with.»
11 HEUSER, Beatrice, The Evolution of Strategy, Cambridge University Press, Cambridge, 2010, p. 388.
12 Cfr. CLAUSEWITZ, Carl Von, On War, ed. HOWARD, Michael, PARET, Peter, Princeton University Press, Princeton, 1989, pp. 479-483. Loureiro dos Santos traduz o título do capítulo XXVI do Livro VI como «O armamento do povo». Cfr. LOUREIRO DOS SANTOS, José, Incursões no Domínio da Estratégia, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1983, p. 166. Não obstante, crê-se que «O Povo em Armas» seria um modo mais impressivo de resumir o que aí se trata.
13 Beatrice Heuser ilustra a evolução do conceito a partir da sua primeira utilização no contexto da guerra dos 80 anos in HEUSER, Beatrice, The Evolution of Strategy, Cambridge University Press, Cambridge, 2010, pp. 391-397.
14 CLAUSEWITZ, Carl Von, On War, ed. HOWARD, Michael, PARET, Peter, Princeton University Press, Princeton, 1989, p. 483.
15 Ibidem, p. 483. Clausewitz parece entender este fenómeno como um último recurso. Estava ainda longe de prever que os povos ou as nações, “conceitos protagonistas” do século XIX, pudessem ser substituídos pelas classes ou pelos partidos como forças motrizes da guerra de guerrilha.
16 Face a essa assimetria, Clausewitz optou por tratar deste tipo de conflitos no Livro VI de On War dedicado à Defesa. Não obstante a sua inclusão neste livro, é discutível que este modo de fazer a guerra possa ser reconduzido, sem mais, a uma modalidade de defesa. Tanto assim é que as acções de guerrilha tendem a infundir nos oponentes uma predisposição defensiva.
17 Cfr. CLAUSEWITZ, Carl Von, On War, ed. HOWARD, Michael, PARET, Peter, Princeton University Press, Princeton, 1989, p. 481: «the fog must thicken and form a dark and menacing cloud out of which a bolt of lightning may strike at any time».
18 Ibidem, p. 481.
19 Cfr. MAO Tse-Tung, On Guerrilla Warfare, BN Publishing, Estados Unidos da América, 2007, p. 51: «A primary feature of guerrilla operations is their dependence upon the people themselves to organize battalions and other units. As a result of this, organization depends largely upon local circumstances.»
20 ROGEIRO Nuno, “Guerrilha” in Enciclopédia Polis, vol. 3, Verbo, Lisboa, 1985, p. 161.
21 CLAUSEWITZ, Carl Von, On War, ed. HOWARD, Michael, PARET, Peter, Princeton University Press, Princeton, 1989, p. 481.
22 Hermes de Oliveira em OLIVEIRA, Hermes de, “Guerrilha” in Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, Verbo, volume 9, Lisboa/Cacém, 1969, pp. 1286-1287, elenca «terrorismo, sabotagem e combate» como os «Métodos de acção» da guerrilha. Cremos que a palavra combate poderá não ser suficientemente precisa para distinguir este modo de fazer a guerra dos demais, preferindo, por isso, elencar não os «Métodos de acção» mas o tipo de operações que mais intimamente se relacionam com ele.
23 Retomando a imagem da pulga (os guerrilheiros) e do cão (o governo / poder instalado), Robert Taber esclarece que «In practice, the dog does not die of anemia. He merely becomes too weakened – in military terms, overextended; in political terms, too unpopular; in economic terms, too expensive – to defend himself. At this point, the flea, having multiplied to a veritable plague of fleas through a long series of small victories (…) concentrates his forces for a decisive series of powerful blows.» Cfr. TABER, Robert, War of the Flea: The Classic Study of Guerrilla Warfare, Potomac Books, Dulles, 2002, p. 20.
24 CLAUSEWITZ, Carl Von, On War, ed. HOWARD, Michael, PARET, Peter, Princeton University Press, Princeton, 1989, p. 482.
25 Ibidem, p. 482.
26 MAO Tse-Tung, On Guerrilla Warfare, BN Publishing, Estados Unidos da América, 2007, p. 41.
27 Para uma síntese da Guerra Peninsular, vd. GLOVER, Michael, The Peninsular War 1807 – 1814 – A Concise Military History, Penguin Books, London, 2001.
28 ROGEIRO Nuno, “Guerrilha” in Enciclopédia Polis, vol. 3, Verbo, Lisboa, 1985, p. 164.
29 Cfr. OLIVEIRA, Hermes de, “Guerrilha” in Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, Verbo, volume 9, Lisboa/Cacém, 1969, p. 1284.
30 Cfr. MAO Tsetung, Citações do Presidente Mao Tsetung, Minerva, Lisboa, 1975, p. 98.
31 Cfr. CLAUSEWITZ, Carl Von, On War, ed. HOWARD, Michael, PARET, Peter, Princeton University Press, Princeton, 1989, p. 89: «The passions that are to be kindled in war must already be inherent in the people; the scope which the play of courage and talent will enjoy in the real of probability and chance depends on the particular character of the commander and the army; but the political aims are the business of government alone».
32 HANDEL, Michael I., Masters of War: Classical Strategic Thought, Routdledge, Abingdon, 2001, p. 128.
33 Portugal conduziu com apreciável competência militar e estilo próprio a mais longa das guerras de contra-insurreição entre exércitos europeus e movimentos independentistas africanos, dividida em três frentes de tipo diferente e que distavam muitos milhares de quilómetros entre si. Cfr., a este propósito, CANN, John P., Contra-Insurreição em África, 1961-1974, O Modo português de Fazer a Guerra, Atena, S. Pedro do Estoril, 1998.
34 ROGEIRO Nuno, “Guerrilha” in Enciclopédia Polis, vol. 3, Verbo, Lisboa, 1985, p. 164.
35 Esta é a única indicação de proveniência que consta do livro.
Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FD-UL), Pós-Graduado em Ciências Políticas e Internacionais (FD-UL), Pós-Graduado em Ciência Política e Relações Internacionais pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa (IEP-UCP), Aluno de Doutoramento em Ciência Política (IEP-UCP), Assistente Parlamentar - Assessor Político e Jurídico de um Deputado ao Parlamento Europeu.