Das naus à vela às corvetas de ferro
A Marinha de Guerra e a evolução da sociedade portuguesa 1807 a 1857
O capitão-de-fragata Jorge Manuel Moreira Silva, consócio da Revista Militar, apresentou recentemente um novo livro, que se vem juntar a uma já significativa coleção de trabalhos da sua autoria.
O título, “Das naus à vela às corvetas de ferro”, conduz-nos para a tecnologia, mas o subtítulo enquadra-nos verdadeiramente no âmbito do trabalho, a exploração de um período difícil da nossa história, que vai desde 1807 até 1857. Neste período, a Corte partiu para o Rio de Janeiro, levando o grosso da esquadra, o Brasil conquistou a sua autonomia, Portugal viveu convulsões sociais enormes, associadas à implantação do regime liberal, e a normalidade só regressou com a estabilização política e económica de 1851, ou seja, com o início do movimento da Regeneração.
Com mestria, o autor faz uma análise perspicaz, em várias vertentes, da evolução da Marinha Portuguesa neste período. A data de início não foi escolhida ao acaso, trata-se do momento em que Portugal, sem disparar uma peça de artilharia naval, perde mais de dois terços da sua esquadra. Os navios que partiram para o Brasil, na sua grande maioria, não regressaram a Portugal e formaram, por exemplo, a Marinha do Brasil. Assim, Portugal foi obrigado a iniciar um longo processo genético e estrutural para reerguer a sua capacidade naval. Quando o Estado começou a pensar no futuro, a Marinha começou verdadeiramente a renascer e a transformar-se numa organização determinante na modernização da nação portuguesa da época.
A leitura deste livro não deixa de nos impor sérias reflexões sobre o tempo presente. O leitor embarca numa nave que o conduz a um complexo emaranhado de teias políticas em que a Marinha funciona como instrumento ao serviço do Estado, sem que, muitas vezes, exista a clarividência de uma grande estratégia nacional. O leitor-nauta atravessa toda a tempestade dos anos 20 e 30 até regressar à bonança dos anos 50. Neste rodopio, bem visível nos vários gráficos, acaba por vislumbrar uma perspetiva de futuro em que o poder naval volta a ser empregue pelo Estado no quadro de uma estratégia de renovação da credibilidade nacional. Simbolicamente, esta esperança, de uma nova vida, chega em 1857 com um salto tecnológico, o início das construções em ferro e a propulsão a vapor.
O livro tem uma capa muito apelativa e 141 páginas muito bem ilustradas e fundamentadas com inúmeros gráficos. Conta ainda com vários anexos com informação sistematizada.
Devemos dar os parabéns à “Tribuna da História” por mais esta iniciativa de divulgação da nossa cultura e da nossa História.
O livro pode ser comprado ou encomendado nas principais livrarias (preço de capa: 19,95€). Poderá também ser solicitado diretamente à Editora através do tel 214 678 710, email: tribunadahistoria@iol.pt, ou ainda pelo endereço postal: Tribuna da História Lda, Rua Vasco da Gama, 60C, 2775-297 Parede.
A Revista Militar agradece ao consócio Comandante Moreira Silva a oferta de um exemplar, felicita-o pela qualidade e interesse do trabalho e incentiva-o a continuar a explorar a história marítima portuguesa, com o seu talento de bem-fazer, pois estará a revitalizar o ADN da nossa identidade.
Capitão-de-fragata Armando José Dias Correia
Vogal da Direção da Revista Militar