A Faculdade de Letras de Lisboa estabeleceu, ao longo dos anos, relações de colaboração com diversas instituições de ensino superior militar. O nível dessas relações de colaboração tem sido, na maior parte dos casos, o ensino e investigação pós-graduados, em particular no domínio da História. Os benefícios têm sido mútuos e profundos. A universidade tem uma dimensão de investigação e ensino avançados que excede a de qualquer outra instituição. O ensino superior militar é decisivo na construção de forças armadas profissionais num país democrático. A saliência estratégica de ambos deveria, decerto, ser uma evidência. A polinização mútua que tal relação induz permite à universidade conhecer melhor uma instituição, as forças armadas, cuja importância é desconhecida por muitos na sociedade portuguesa, e, no processo de conhecê-la, aperceber-se da magna importância de que o seu papel se reveste.
A Faculdade de Letras criou, recentemente, com as Faculdades de Ciências e de Belas-Artes, uma Licenciatura, Estudos Gerais, inédita em Portugal e quase inédita na Europa. Os estudantes deste curso circulam pelas três Faculdades e adquirem uma formação ampla nas Humanidades, nas Ciências e nas Belas-Artes. Se a percepção dos ganhos educativos que um tal curso permite, numa época em que critérios de brutalidade pragmática reduzem toda e qualquer questão educativa a um absurdo algoritmo de empregabilidade, nem sempre foi clara a importantes decisores do sistema educativo, foi, todavia, clara a muitos dos nossos interlocutores militares. A razão é simples: na formação dos seus oficiais, as instituições de ensino superior militar sempre reconheceram a necessidade de uma educação plena, fundada numa ética de serviço, e sempre procuraram facultá-la aos seus alunos. Por isto mesmo deveriam ser objecto de emulação dos outros sistemas de ensino, e reconhecidas como tal pelas instituições que as tutelam.
O país tem vivido uma crise que o tem levado a considerar aspectos fundamentais do seu sistema social e político. O debate público sobre esses aspectos é, todavia, de baixa densidade conceptual, e, politicamente, parece, por vezes, reduzir-se a meros enunciados passionais. Nada parece exaltar como uma antevisão de catástrofe. E, no entanto, se, por um lado, a universidade e as forças armadas devem recusar qualquer gravame irrazoável ou ilegítimo à sua actividade fundamental, devem também reconhecer que a sua existência não está, nem pode estar, em risco. Ambas as instituições são perpétuas. A razão dessa perpetuidade essencial é simples: nenhum país civilizado, ou meramente viável, pode viver sem forças armadas ou universidade, sob pena de estiolamento ou extinção. Nada permite pensar que alguém possa seriamente pensar o contrário.
A Faculdade de Letras de Lisboa saúda as instituições de ensino superior militar, nossos pares numa colaboração de há anos, ou a sê-lo, e saúda a Revista Militar, sob cuja égide neste encontro nos juntámos.
Licenciado em Estudos Anglo-Americanos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1977), Mestre em Literatura Inglesa e Americana pela State University of New York (Albany) (1980), Doutor em Literatura Inglesa e Americana pela Brown University (1985).
Professor Catedrático do Departamento de Estudos Anglísticos e do Programa em Teoria da Literatura, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Director e Presidente do Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (2008-2013).
A sua actividade de ensino e investigação tem incidido em domínios como a Teoria da Literatura, a literatura do Renascimento ingl&eci