IN MEMORIAM
Manuel Carlos Teixeira do Rio Carvalho
Coronel Tirocinado de Infantaria
28 de Junho de 1935 – 25 de Setembro de 2014
O falecimento do Coronel Tirocinado de Infantaria Rio Carvalho, no passado dia 25 de Setembro, ocorreu após um longo sofrimento, que foi mais uma prova das muitas que marcaram a sua longa vida de lutador.
Militar brilhante e muito estimado, viveu uma longa e muito apreciada carreira, altamente considerada pelos amigos e por todos os que serviram sob as suas ordens. A sua inteligência, dedicação ao serviço, afabilidade, espírito de servir e o bom senso que o caracterizavam faziam com que fosse excecionalmente apreciado e tido como exemplo a seguir.
Estudioso e sempre interessado em desenvolver e aprofundar os assuntos, nomeadamente o ensino militar, a sua vida distinguiu-se em múltiplas facetas, de que enuncio algumas: o seu cuidado por uma permanente FORMAÇÃO; a sua dedicação ao ENSINO; o seu empenho nas ACTIVIDADES OPERACIONAIS; e o seu importante trabalho na REVISTA MILITAR.
A sua FORMAÇÃO militar pessoal iniciou-se bem cedo, na frequência, durante sete anos, do Colégio Militar (124/1945) onde apurou a sua vivência da camaradagem, lealdade, espírito de corpo e desenvolveu valores morais e humanos, como o sentido de dever e espírito de sacrifício, que ao longo da vida o vimos concretizar em acções.
Transitou, em seguida, para a então Escola do Exército que concluiu, em Abril de 1955, depois do Tirocínio de Aspirante a Oficial.
No início da sua carreira militar, o Coronel Rio Carvalho foi colocado no Regimento de Infantaria nº 2, em Abrantes, unidade SHAPE, que integrava a 3ª Divisão de Infantaria (Nun’Álvares) tendo feito um longo “tirocínio” de manobras militares em Santa Margarida.
Em Abril de 1960, frequentou, em Lamego, o Curso de Operações Especiais. Na sua busca da excelência, frequentou diversos outros Cursos e Estágios de valorização de que destaco, pela relevância do contexto da situação do Exército Português, o de Contra-Insurreição e de Interforças.
Concluiu, ainda, o Estágio para Oficial Superior a que se seguiu, em 1984/85, o importante Curso Superior de Comando e Direção. Por último, seria selecionado para participar, no Instituto de Defesa Nacional, no Curso de Auditor de Defesa Nacional, tendo coordenado diversas conferências no âmbito dos Cursos de Defesa Nacional.
As suas múltiplas qualificações e as suas qualidades profissionais e humanas determinaram que fosse selecionado para funções de ENSINO como Segundo-comandante do Curso da Formação de Sargentos, em Lamego. Nessa função, foi-lhe reconhecida a elevada capacidade de trabalho, o sentido de lealdade e competência profissional, revelando as suas qualidades morais, de bom senso, inteligência e espírito de bem servir.
Por escolha, foi designado Subdiretor do Colégio Militar, onde já havia sido Chefe do Gabinete de Estudos, Comandante do Corpo de Alunos e Secretário Escolar, perfazendo mais de quatro anos ao serviço do Colégio, onde teve a oportunidade de reafirmar as suas qualidades de educador, baseando a sua acção numa exemplar e sólida formação moral e humanística, desempenhando em muitas ocasiões as funções de Diretor Interino.
Participou activamente no ensino nos Cursos de Infantaria na Academia Militar, onde esteve colocado por diversas vezes, e na Escola Prática da Arma.
Para ATIVIDADES OPERACIONAIS, de campanha, o Coronel Rio Carvalho foi mobilizado por quatro vezes por imposição.
A primeira para Angola, para onde seguiu ainda antes dos acontecimentos, nos princípios de 1961. Efetivamente, em junho de 1960, ainda subalterno, integrou a 4ª Companhia de Caçadores Especiais, destinada ao Norte e integrada num Batalhão que foi condecorado com a Medalha de Ouro de Valor Militar, cujo distintivo foi autorizado a usar, por lhe ter sido “reconhecido o espírito de sacrifício e a valentia, coragem e audácia, nas missões mais difíceis”.
Voltaria a ser mobilizado para Angola, nos finais de 1963, onde se manteria até fevereiro de 1966, levando a cabo muitas ações que mereceram justo reconhecimento, sendo apontado como oficial de grandes qualidades morais, militares e de comando em campanha. Lê-se num dos numerosos louvores que recebeu: «oficial inteligente, sabedor, muito leal e trabalhador (…) mantendo, mercê das suas qualidades, a sua companhia com elevado nível moral. Nas imensas operações que comandou, demonstrou sempre valentia, coragem e audácia».
Menos de um ano após o seu regresso, em setembro de 1967, foi novamente mobilizado, uma vez mais para Angola, de onde regressaria, em Janeiro de 1970. Cerca de um ano depois, é novamente mobilizado, desta vez para Moçambique, de onde regressou no fim do ano de 1973.
Uma nota curiosa: o Coronel Rio Carvalho foi também mobilizado por imposição para a Índia, em setembro de 1958, ainda Alferes, sendo desmobilizado uma semana depois; em maio de 1963, igualmente, mas para a Guiné, para onde também não seguiu; mais tarde seria destinado a Timor, também sem concretização… É caso para dizer que, teoricamente, “esteve” em quase todas as Províncias Ultramarinas.
Em novembro de 1982, assumiu o Comando do Regimento de Infantaria de Abrantes, onde se manteve até marchar para a frequência do Curso de Promoção a Oficial General.
Quando terminou as funções de assessor do IDN passou a dirigir o “Jornal do Exército” que dinamizou com mais e melhores colaborações, pondo em prática um excelente ambiente de trabalho com muito entusiasmo, competência e dedicação (fevereiro de 1991 a junho de 2000).
O Coronel Rio Carvalho tem averbados mais de duas dezenas louvores de que destacarei: uma referência elogiosa do Comandante da Academia Militar; do Brigadeiro Diretor do Colégio Militar; três do General Chefe do EME; do General Diretor do Departamento de Instrução do EME; do General Comandante da Região Militar de Moçambique; do General Diretor do IDN. Das condecorações salientamos: Medalha de Prata de Serviços Distintos; Medalhas de Mérito Militar de 1ª e 2ª classe; Medalhas de Prata e Ouro de Comportamento Exemplar; e as Medalhas Comemorativas das Campanhas das Forças Armadas Portuguesas com as seguintes legendas: Angola 1961; Angola 1963-64-65-66; Angola 1967-68-69; Moçambique 1971-72-73.
Da REVISTA MILITAR era o Sócio 261, desde 17 de Dezembro de 1999, tendo nela mantido colaboração de grande qualidade, fazendo parte, durante dez anos, da sua Direção, como Vogal Efetivo. Nesta importante e delicada função – apreciação e seleção de artigos a publicar, entre outros pareceres e iniciativas –, o Coronel Rio Carvalho enriqueceu-nos sempre com considerações de muito bom senso, construtivas, com evidente qualidade e profundidade de análise.
Colaborou pessoalmente na Revista com diversos artigos, de que vale a pena salientar os seguintes:
– “Associação de Editores Ibero-Americanos de Publicações Militares”, de que foi membro efetivo, tendo organizado a VII Conferência, em Lisboa, em 1994, a segunda a ter lugar fora do Continente Americano (a primeira tinha sido em Madrid, três anos antes). O artigo, escrito em 1999, condensa e analisa os problemas colocados em reuniões anteriores, defende fundamentadamente o grande interesse da Associação e enuncia as vantagens das diferentes propostas colocadas pelos diversos países, bem como os problemas que acarretavam, a sua exequibilidade, interesses e prioridades. O artigo mantém toda a atualidade e a sua leitura continua a ser proveitosa.
– O artigo a propósito das “Comemorações do bicentenário do Colégio Militar”, do qual não resistimos a transcrever um trecho: «a necessidade atual da continuação do culto dos valores cívicos que sempre foi seu timbre, da preparação no domínio da liderança sempre proporcionada e incentivada nos seus educandos, do sentido da responsabilidade individual que lhes é incutida desde tenra idade e dos resultados práticos que o culto dessas virtudes, a par de sólida formação intelectual e física, são evidenciadas pela vivência cívica e profissional de muitos dos seus antigos alunos».
– O seu último artigo data de 2005, e integra-se no seu permanente interesse pelo ensino: “O Ensino Superior Militar e o ‘Processo de Bolonha’”. Dele respigamos o seguinte: «Este enunciado (constante do documento que adota o processo em Portugal) torna óbvio que apenas parte dos princípios por ele aprovados são susceptíveis de cumprimento pelos Estabelecimentos de Ensino Militar (estrutura de três ciclos (adaptada), sistema de créditos e princípios de avaliação, classificação e qualificação) que não outros. É que, na realidade, o Ensino Superior Militar tem especificidades que não deve, nem pode, perder, porque também é específica a função para que prepara os seus alunos)».
O Coronel Rio de Carvalho foi um exemplo de Homem e de Militar, no serviço à Pátria, na amizade leal e dedicada, no amor à Família. Para mim foi um Amigo.
A sua memória exemplar permanece entre nós.
Tenente-general Adelino Rodrigues Coelho
Sócio Efetivo da Revista Militar