A vida num sopro … de quem é ingénito!
A 16 de outubro, 6ª feira à noite e de forma repentina, deixou-nos o General Gabriel Espírito Santo. Tinha 79 anos de idade.
Partiu um ilustre Soldado de Portugal, a Cultura Nacional perde um profícuo militar historiador e Bragança chora o desaparecimento de um dos mais queridos filhos da Terra.
Como Militar, destaca-se o Combatente do Ultramar (Angola e Moçambique), o representante de Portugal na NATO, o Comandante do Exército e das Forças Armadas Portuguesas e o Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito.
Professor insigne, do Instituto de Altos Estudos Militares e da Universidade Católica, e Homem de Letras, com vasta bibliografia de referência no campo da Estratégia e da História Militar, o General Espírito Santo congrega a ancestralidade castrense inscrita na legenda camoniana «não houve forte capitão que não fosse também douto e ciente».
Quanto ao Homem, uma simples palavra bem transmontana define-o: sólido!
Fica a memória do Homem, o legado do soldado e o exemplo do patriota. Apesar destes tempos levianamente fátuos de uma Comunidade mal calibrada, que pouco mais consegue que uma sagração noticiosa em jeito de rodapé. Afinal, quem merece quem?
O General Espírito Santo marcou muitos e eu não fujo à regra, de tal forma que não resisto a três registos pessoais sobre a sua personalidade:
(i) Teve a simples «ousadia» de aceitar prefaciar e apresentar, no Instituto de Estudos Superiores Militares, o meu livro “Restauração Portuguesa de 1640. Diplomacia e Guerra na Europa do Século XVII”, em 2011, ele que era só o autor maior do tema em apreço, deixando ficar plasmada a frase “o Autor, mais por uma amizade de bragançanos que somos, do que por outras razões, pediu-me para escrever algumas palavras de apresentação da obra …”.
A humildade cai sempre bem a uma figura que merecerá sempre a nossa exaltação.
(ii) Um dia, agarrou-me no braço, com aquele seu jeito paternal no ser e firme no estar, e incluiu o meu nome como Sócio Efetivo da Revista Militar, de foi Presidente da Direção durante mais de uma apaixonada década.
Não é que o «título», num meio cheio de currículos muito arredado de conteúdos, seja de somais, mas ser sócio por essa via orgulha;
(iii) Já General, e durante uma conversa ocasional com este Capitão, na Caixa Geral de Depósitos de Bragança, lembro-me de o ver, de repente, rodopiar a cabeça na direcção da porta, avançar alguns passos e dar, quase em jeito adolescente, dois beijos na face de um ancião a quem tratou carinhosamente por … paizinho!
A educação e o respeito precedem e complementam, como sempre devia ser, a formação e as qualificações.
O General Espírito Santo representa a mais recente geração de oficiais generais de craveira, em que a espada, a pena e a eloquência caminhavam juntos. À boa maneira dos seus igrejos avós. Uma geração de «boa colheita», que brilhava como estrelas de um firmamento que orientava, mas que se vai esgotando à medida que cada luz se apaga, o carreiro estreito, a cortina encerra e a plateia, cheia de tédio, vai esvaziando.
De pé e em sentido presto continência, e deixo a minha profunda admiração pelo Cabo-de-Guerra e pelo cidadão Gabriel Espírito Santo, um Militar com Arte, adestrado na Arte da Guerra e um Português de referência.
Deixou-nos uma sentinela de Portugal!
Porque era um Homem de Fé – ad glorium tute, meu General!
* Tenente-coronel Abílio Pires Lousada, Sócio Efetivo da Revista Militar.